segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Gerador (não, não é gerador de ideias!)

Nesta altura do ano surgem alguns elementos "novos" nas vivências angolanas: fruta desconhecida, chuva (muita e relativamente violenta) e calor (altas temperaturas e a sensação permanente de que alguém se esqueceu de fechar a porta do inferno). Os constrangimentos que decorrem destas duas últimas "novidades", são vários e, se a eles juntarmos a falta de infraestruturas, temos um mix relativamente animador. 
Quando se fala de Angola, deve ter-se presente que o país tem especificidades próprias, atravessou um longo período de guerra civil e que há muito por fazer para que as condições de vida das populações sejam minimamente satisfatórias e condizentes com o que deve ser o valor e necessidades do ser humano. Ora, ter o mínimo de qualidade de vida pode implicar... ter um gerador eléctrico (o que não sei se acontece com a maioria dos habitantes nacionais)! Em algumas zonas da cidade de Luanda, as quebras de energia são tantas, tão recorrentes e tão duradouras que, sem gerador, a vida torna-se ainda mais complicada. Com as chuvas e o calor a aumentar, o que se tem visto é que as quebras de energia têm sido ainda mais evidentes (há quem diga que as infraestruturas eléctricas não estão preparadas para aguentar, por exemplo, a utilização permanente do ar condicionado).
A vários níveis, tenho tido um baptismo angolano verdadeiramente "top". No que diz respeito a viver com gerador eléctrico, asseguro: é mau (barulho), é caro, é incómodo, é inimigo do ambiente. Contudo: viver sem ele e  sem electricidade é muito pior...
Imagem retirada da Internet.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Os olhos tristes.

Ao longo dos meus quase 20 e poucos anos de vida (!!!!!) posso dizer que raramente convivi com situações de pobreza extrema. Existem seguramente nos outros países em que vivi, mas tive sorte: nunca me cruzei sistematicamente com elas. Contudo, a experiência brasileira e angolana tem-me trazido novas lições...
Foi no Brasil que comecei a "experiência". Graças a uma amiga aprendi que há muita gente que sobrevive à custa do que encontra nos caixotes do lixo e que todos nós poderemos - em qualquer parte do Mundo - tornar esta tarefa menos ingrata. Embora habitualmente não tenha desperdícios, a verdade é que nunca mais consegui jogar restos de comida ao lixo: sempre que não tenho outras alternativas, coloco os restos de comida (mesmo que sejam reduzidas quantidades!) dentro de sacos de plástico, que fecho bem para que o seu conteúdo não fique contaminado quando for misturado com o outro lixo.
Em Luanda, a situação mantém-se e é-me particularmente difícil de gerir: há vários adultos e crianças que me abordam dizendo que têm fome. Bolas, como lidar com isto? Não se consegue :(
Viver longe da nossa zona de conforto é resmungar muitas vezes, é perguntar-se constantemente o que se faz longe de casa, é desgastar-se fisicamente, é maldizer todas as "pedras" que surgem no caminho, é emocionar-se com pequenas coisas e é, acima de tudo, dizer que se é muito abençoada por ter direito a condições de vida acima da média da maioria da população.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ar doce de menina.

Surge com o pequeno menino às costas. Aparenta ter 20 e poucos anos, mas, Deus, será que sim (é muito fácil enganar-me nestas avaliações)?
Cedo percebeu que "a amiga branca" tinha potencial para ser cliente assídua. Então, várias vezes por semana, à hora de almoço, a campainha toca:
- Amiga, me vê umas frutas!, diz.
- O que tem?, pergunto.

A bacia vem pesada e carregada de fruta.  Um dia disse que a ajudava e, sem grandes alternativas, meio que hesitante, aceitou. Normalmente, a ajuda dos "manos" na descida da bacia que transporta à cabeça é recompensada por uma banana, rapidamente engolida. Quero acreditar que, no meu caso, o "prémio" será o desconto.
Amanhã é outro dia, outro soar de campainha, outro sorriso aberto, outras palavras de criança, outras palavras de agradecimento.
("Margarida" é o seu nome e, como já antes referi, é uma das muitas vendedoras ambulantes ("zungueiras")  que circula diariamente nas ruas de Luanda).

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ambulantes.

À semelhança do que via no Rio de Janeiro, também na cidade de Luanda é evidente a presença dos vendedores ambulantes. Um pouco por toda a cidade é comum encontrarmos venda de frutas, legumes, bebidas, acessórios (para veículos, casa, telemóveis), cartões de recarga de telemóveis, jornais, vestuário, calçado e muito mais. No entanto, o que me parece substancialmente diferente do que via no Rio, é que a diversidade de artigos vendidos nas filas de trânsito é muito maior do que alguma vez vi nas estradas da linha vermelha ou amarela, por exemplo.
Convenhamos que a venda de jantes e escovas de automóvel, carregadores de telemóvel e insecticidas nas filas de trânsito é algo que ainda me mete alguma confusão. No entanto, apesar de estranhas, estas vendas têm-se tornado úteis em algumas circunstâncias :)
Vendedor de aventais (o senhor usava um avental semelhante aos que vendia).

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Foi um cisco no olho...



Ultimamente têm sido muitas as vezes em que fiquei com um nó na garganta - e posso confessar que isso não é tarefa fácil!
Um destes dias conversávamos com um taxista, oriundo do Burundi. No seu inglês perceptível foi falando do país, de Portugal e, com um sorriso no rosto, da família que perdera no mal-fadado conflito que assolou (assola?) o seu país. Disse-nos que era "refugiado" de guerra. Hoje, trabalhava como taxista para arranjar dinheiro para regressar aos estudos universitários que interrompera e, quem sabe, voltar para visitar a sua terra Natal - da qual apenas lhe restam as memórias (e que "raio" de memórias, imaginei eu!).
Esta é somente uma das muitas histórias com que me cruzo diariamente e que, por razões cá minhas, nem sempre "cabem" no blog. Muitas são histórias de sobrevivência que me fazem pensar que nunca, em momento algum, conseguirei ser suficientemente grata por ter nascido livre e num país sem vestígios de guerra.
Resultado de imagem para paz
Foto retirada da internet.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Albinos africanos.

O albinismo resulta de um distúrbio genético relacionado com a ausência ou problemas da enzina envolvida na produção de melanina. A falta de pigmentação da pele e problemas ao nível da visão são apenas alguns dos efeitos visíveis provocados pelo distúrbio mencionado.
Em tempos - e muito antes de sonhar uma vinda para Angola - já tinha ouvido falar do preconceito contra albinos, em África. Além de serem segregados pela sociedade, por serem totalmente diferentes dos seus pares, as questões associadas à feitiçaria sobressaem: para muitos, estas crianças são associadas a infortúnio e má-sorte, para outros, a posse de algum dos seus membros é sinónimo de riqueza e alegria. 
Se querem saber um pouco mais sobre esta problemática e o seu impacto em África, recomendo uma passagem por aqui: http://albinism-in-africa.com/
O albinismo é muito comum na África subsahariana. O albinismo é muito comum em Angola. O albinismo não pode ser motivo para desrespeito da condição humana!
Foto retirada de: www.conexaolusofona.org